MÃE!!!

MÃE!!!
Ela era uma Rosa

A vida não pára!

Paciência

Lenine

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para...

A vida não para...

http://www.youtube.com/watch?v=sXmWAOIWg3w


















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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A foto nossa de cada dia

A FOTO NOSSA DE CADA DIA...
(uma análise do artigo 5º, III, da Constituição Federal, à luz da sensibilidade)

De acordo com o Art. 5º da nossa lei maior, a Constituição Federal, todos são iguais perante a lei e, estendendo-nos ao inciso III, ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.
Perguntamos a uma criança o que seria ninguém. “É nada, vazio, nenhuma pessoa”, nos disse ela.
Incrível como mostra capacidade de entendimento superior a nossos legisladores.
Ninguém é nada, nenhuma pessoa. Tão simples!
A lei não diz ninguém da nossa casa; ninguém do nosso parentesco; do nosso grupo de oração, da nossa Igreja, da nossa cidade; do nosso país... do nosso partido político...
Podemos entender então de maneira “abrangente”: ninguém é nenhuma pessoa. Apenas isso.
Nenhuma pessoa será submetida a tratamento degradante.
A lei não diz que devemos fazer algo para defender essa pessoa.
Diz somente que ninguém será submetido a tratamento degradante. Diz, em subentendimento, que a situação será evitada.
Certo. Então relemos o nosso artigo tão simples, tão singelo, e reinterpretamos novamente.
Ninguém será submetido a tratamento degradante. Se isso acontecer, o observador deverá tomar as seguintes providências: elenco de soluções, vastíssimo.
Mas...
Aí eu vi a foto que chocou o mundo.
Foi-me mandada por um amigo virtual que com certeza vagava pelo computador tarde da noite, sem maiores pretensões que a de se distrair e quem sabe conversar com alguma pessoa que se interessasse pelo que ele tinha a dizer...
Esperava ele, suponho, que a foto me impressionasse como impressiona as pessoas comuns. Não, ela me deu um tapa na cara à meia noite, hora em que somos todos mais sensíveis.
Talvez fosse meu filho o menino da foto.
Ou seu.
Não sei.
Se conhecêssemos a mãe dele quem sabe nos comovêssemos mais profundamente e nos dispuséssemos a ajudá-la, levando até ela um litro de leite ou um balde de água. Ou a trouxéssemos com seus rebentos à nossa casa, onde partilharíamos o banheiro, a mesa e a vida.
Não, a mãe dele está tão longe que não nos incomoda com seus gemidos, gritos de fome e de dor. E quem mandou ter tantos filhos? Não vê que os filhos só deixam a gente mais pobre? (se isso fosse verdade, toda família com filho único seria riquíssima, e não é isso que vemos...)
Talvez a mãe já esteja morta, e não vê o filho morrendo aos poucos, esquelético como mais nada nesse mundo.
Mas o mundo viu.
Eu vi.
E depois disso minha consciência já não fica em paz.
O que eu faço é nada; esse menino continua naquela vida que levava antes de eu ver a foto.
De que adianta vermos a foto se não vamos fazer nada?
Nossas horas diante do computador nos ajudam no emprego, na vida, nas diversões, mas que valem praquele menino? Nem ao menos mitigam a dor da nossa consciência!
Poderíamos viajar até ele, tomá-lo nos braços e mudar-lhe a vida.
Meu Deus, mas ele é negro!
É.
E tem a idade do meu filho. Do seu.
A fome dele é muito maior do que a do meu filho quando volta do clube, ou do seu. A fome dele dura anos. Desde que nasceu, pois o seio da mãe não era farto como os nossos, que nos fazem tomar medicamentos diabólicos para secar o leite gratuito.
A fome dele faz com que chegue avidamente à parte posterior de um animal bovino e coma os dejetos, as fezes que não servem mais para o animal.
Para o animal é lixo, mas para o menino é alimento.
Examinem a foto que chocou o mundo.
De acordo com o Art. 5º da nossa lei maior, a Constituição Federal, todos são iguais perante a lei e, estendendo-nos ao inciso III, ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.
Se comer os dejetos de uma vaca não é desumano ou degradante, o que será?
E nós, que nos orgulhamos da nossa formação, dos nossos “operadores do Direito”, na sua luta incansável por melhores honorários, o que fazemos?
Nada.
O menino é negro.
O menino está longe.
Não cabe na nossa casa.
Não o conhecemos.
Ele é sujo.
Ele é faminto.
Deve ter carrapatos nas axilas.
Deve ter sarna nas dobras das pernas.
Deve ter larvas de moscas por todo o corpo...
E assim levamos nossa vida, nos impressionando com fotos que chocam o mundo, desligando nossos computadores e indo dormir cobertos, tranqüilos e em paz.
Aquele menino não nos pertence. Não é nossa obrigação cuidar dele. Não temos nem queremos ter a guarda dele. Muito menos adotá-lo. Não somos Angelina Jolie ou Madonna.
Não temos obrigação (e ninguém é obrigado a nada senão em virtude de lei) de cuidar de uma criança empestada que sobrevive do outro lado do mundo e come dejetos de animais.
Quem mandou sobreviver?
Por que não morreu como seus irmãos menores, comidos por larvas? Por que não foi vendido como escravo, para sair de um país tão miserável? Por que não o esquartejaram e venderam seus órgãos?
Ei, espera aí, isso é proibido!
Ah, mas deixar alguém sofrer tratamento degradante não o é?
Se ninguém enxerga a dor do próximo, deixemos que as mães do mundo legislem. Só mães.
Mudaríamos a realidade do planeta.
Ah, mas é difícil, nossos representantes já estão lá, e têm suas faltas perdoadas, não sofrem descontos pelos dias em que vão passear em vez de trabalhar, recebem auxílio até para o veterinário do peixinho do aquário da filha da empregada...
Então tiremos da nossa Constituição essas hipocrisias de “NINGUÉM será submetido a tratamento desumano ou degradante.”
Ninguém do nosso povo? Da nossa casa? Ninguém significa ninguém. Em qualquer lugar do mundo, em qualquer casa. Saibamos nós ou não.
Que os “Operadores do Direito” façam valer a lei, mudá-la se necessário for, que eles gritem, organizem-se em protestos pelos milhares de meninos do mundo que matam a fome com fezes de animais.
Que ele cheguem à ONU se for preciso, a um tratado internacional, mas que vejam e mostrem ao mundo esse menino almoçando (ou jantando, sei lá, que a vaca não tinha um relógio no pescoço...)
A paz é fruto da justiça. Somente da justiça.
Enquanto não repartirmos a comida no mundo, não haverá paz. Nem justiça, por mais que nossos Fóruns pululem de “operadores do Direito” bem vestidos e bem montados.
Ou será que nossa Lei maior é ficção?


MARIA ÂNGELA RODEGUERO

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