MÃE!!!

MÃE!!!
Ela era uma Rosa

A vida não pára!

Paciência

Lenine

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para...

A vida não para...

http://www.youtube.com/watch?v=sXmWAOIWg3w


















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quarta-feira, 10 de junho de 2020

A Rainha do Rodeio

- Você quer uma cachorrinha chamada Amy?

- Sim.

A cabecinha do menininho de 6 anos exibiu o sorriso mais lindo do mundo.

Daí uns dias fomos buscá-la no sítio.

Era uma bolinha de pelos pretos. Olhinhos brilhantes. Colocaram uma fita rosa na cabeça dela, e uma fita azul na irmãzinha.

Ficamos com ela e ela se tornou o xodó da casa. Conforme os filhos foram crescendo, mais a mim ela se achegava, até que ficamos só nós duas.

Na copa de 2014, nós duas longe de casa, morando sozinhas na praia, eu era dispensada do serviço mais cedo por causa do jogo e corria para casa, com a desculpa infindável  de que tinha que arrumar a mudança. Enfiávamo-nos embaixo das cobertas, juntinhas, e uma esquentava a outra. Dormíamos até à noite, quando saíamos para dar uma voltinha pelas ruas. Talvez até o pier, já que o lugar era calmo e seguro.

Atualmente assisto a uma série na Netflix que se chama Heartland. Amo. E a protagonista se chama Amy. E trabalha com cavalos. Por isso o título desta. Quando da chegada da minha bolinha de pelos, havia na televisão uma história/novelinha de uma órfã chamada Amy, que meus filhos assistiam comigo. Por isso o nome da poodle pretinha de olhos brilhantes.

Hà uns dez dias ela começou com uma tosse indescritível. Veterinário, cardiologista, raio X, ultrassom, eletrocardiograma. Remédios.

No raio X, uma mãozinha deslocada. Veterinário de novo. Vitaminas para as articulações, um anti-inflamatório. Mais remédios. Vômitos. Falta de apetite. Diarréia.

Cada vez mais fraca, ela não está se levantando para comer, e tudo o que eu ofereço ela recusa.

Meu emocional está no zero. Meus filhos me consolam, mas isso não é fácil. E eu não quero sobrecarregá-los.

Amigos são centrados nos próprios problemas, geralmente. É difícil precisar de ajuda em tempos de epidemia. Quero mudar-me de país, de sistema de governo, de Planeta. Tenho outras cachorras (grandes) e uma gata. Só Amy mora dentro, comigo e a gata. Tem a cama dela, a caixinha onde passa o dia perto de mim, no computador, entre a sala e a cozinha.

Já sinto tanto a falta de como ela era há uns anos... Ela já não ouve nada. Nem os trovões, nem as bombas distantes, nem os carros, nem as palmas. Ela, que sempre ficava alerta quando alguém se aproximava de mim, já não tem disposição prá isso.

Sei que ela estará sempre em meu coração, mas sei também que os dias dela ao meu lado estão terminando.

Isso dói demais. Não há nada que eu possa fazer. Se eu pudesse, ela ficaria para sempre ao meu lado, sem nenhum sinal dos tempos. Ouvindo, enxergando, correndo e brincando. Para sempre.

Eu sinto que ela está partindo. Não sei o que fazer. Queria ser menina e ter o colo da minha mãe para poder correr para ele. Mas minha mãe também já partiu...

Sinto-me sozinha, principalmente quando a noite avança.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Dia de casamento.

Sabe, Ju, é claro que ela queria encontrar o amor da vida dela. Ela queria um casamento dos sonhos, com véu e grinalda.

Mas aí a costureira disse que não fazia aquele tipo de vestido, e não podiam gastar mais do que já estavam gastando indo atrás de quem o fizesse.

Depois a costureira disse que aquele modelo de vestido e enfeite de cabelo não combinavam com véu. Por que, Deus, ela não dissera aquilo antes? Porque o véu era um símbolo que ela queria muito usar. Não o usara na Primeira Comunhão e era importante usá-lo agora.

Então, Ju, ela foi fazendo como as outras pessoas queriam. Nada ela para ela.

A data foi de acordo com a disponibilidade dos parentes que viriam de fora. Ela era a noiva e se sentia traída por isso. Se o seu casamento era importante, porque as pessoas não poderiam perder um dia no emprego para ir vê-la? E se não pudessem, ela não queria essas pessoas em seu casamento.

Dos convidados, ela não conhecia metade. Isso também a incomodava. Não era isso que programara.

Da festa ela não tinha o que reclamar. Só que a toda hora alguém se achegava para dizer alguma coisa e atrapalhava a festa "dela".

Os tios esperavam para dançar com ela, já que seu pai arrumara um sanfoneiro famoso para tocar na festa. Mas ela quisera "dar um pulinho" em casa para se livrar daquele vestido horroroso e colocar uma calça jeans e uma camisa do seu pai. Dezenas de parentes chegaram atrás dela para tomar café. Ela não contara para ninguém que sairia da festa. Seriam só alguns instantes. Mas as pessoas quiseram conversar durante o café.

O mau humor foi tomando conta. E quando ela percebeu, seu então marido não quis voltar para a festa. Ela não dançou na própria festa de casamento que, para ela, só foi um martírio.

O marido queria ir embora logo da casa do pai dela. E ela não queria ir nunca. Até hoje dói em sua alma aquela noite. Os sobrinhos a ajudaram a livrar-se da fantasia de noiva, das meias piniquentas e dos enfeites de cabelo.

Ela fora embora e os sobrinhos ficaram chorando. Por muitos anos dormiram juntos, conversando até de madrugada, e agora ela iria embora. Foi chorando, também.
O casamento não foi o dos sonhos. Nem no dia,  nem depois.

Mas ela sobreviveu. Até hoje, Ju, ela tenta .encontrar alguém que a faça sentir-se como naquela época, em que ela tinha sonhos, planos e uma vida toda pela frente. Mas o tempo cobra seu tributo e não há mais tempo. Não há muita vida pela frente e ela sabe. Nunca mais terá um vestido de noiva com véu. Nem a noite de danças com seus tios divertidos. Uma parte da sua vida acabara naquela noite e, embora ela buscasse durante anos voltar a ser como era, nunca mais conseguira. Fora em frente aos pedaços. Pedaços de renda, de cetim, de tapete vermelho, pedaços de bolo congelado, pedaços de bouquet que ela não jogou... Pedaços de vida. Pedaços de alma.

Hoje, os pedaços de alma são o que lhe restou...