Walter Hupsel

Walter Hupsel é doutorando em Ciência Política pela USP e Professor de Ciência Política e Relações Internacionais na Faculdade Santa Marcelina. Nasceu em Salvador, torcedor doente do Esporte Clube Bahia e roqueiro até o fim. Escreve a coluna Política on the Rocks semanalmente, às quintas-feiras.
Escreveu sobre a marcha da maconha e foi literalmente surrado pelo público.

Sabe, Walter, a marcha da maconha seria legal. Do ponto de vista da lei. E bacana, do ponto de vista do estado de espírito.
Num país onde não se protesta por passaporte de diplomata pros filhos do presidente analfabeto, onde não se mata por falta de atendimento médico a crianças, onde não se incendeia por corrupção solta e desavergonhada de nossos políticos, seria bom ver alguém fazendo algo, mesmo q fosse prá liberar a maconha.
Muitos falam contra você por apologia à droga.
Mas a apologia ao álcool que milhões de pais idiotas fazem todas as tardes pelos bares das cidades não é apologia à droga? E os fumantes que esfregam o vício na cara de todo mundo, inclusive das crianças?
E a apologia do nosso presidente à ignorância, quando declarou nunca ter lido um livro?
E a apologia às fachadas quando nossos estudantes sabem que é o sistema que mata de fome nossa população pobre, e os impedem de gritar?

Nossos governantes vivem de fazer apologia ao crime sob todas as suas formas e o povo NÃO FAZ NADA, NÃO FALA NADA, NÃO VÊ NADA. Ninguém acha errado tudo o que acontece nesse paisinho de merda.
Agora, a marcha da maconha é apologia.

O neonazismo crescendo livre não é crime.
Meninos inocentes (só porque são homosexuais não são criminosos!) sendo espancados não é crime.
Meninas de 14 anos jogadas em celas junto com marmanjos não é crime.
Matar uma religiosa idosa não é crime.
Triplicar o patrimônio com dinheiro público não é crime.

Se nosso governo fosse limpo, legal, transparente, honesto, talvez a marcha da maconha nem fosse necessária.
Nosso país precisa da marcha da vergonha.
Prá depôr todos esses ladrões que nos roubam dia e noite e saem impunes.

Meu abraço solidário...